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04-01-2003
Casa Pia em rede de tráfico internacional de crianças
MARIA JOSÉ MARGARIDO *
Foto: DN-Carlos Santos
DN-Rodrigo Cabrita PISTAS. Namora
As informações que um grupo de ex-alunos da Casa Pia quer transmitir ao primeiro-ministro «têm a ver com a entrada em Portugal de dezenas de crianças de outros países, que obtêm de forma ilegal as suas autorizações de residência», disse ao DN o advogado Pedro Namora, ex-aluno da Casa Pia. Uma rede internacional de prostituição infantil que «inclui mas extravasa em muito o âmbito da Casa Pia».
Os ex-alunos pediram já a Durão Barroso uma audiência privada para revelar factos que «colocam em causa a segurança nacional».
O advogado não entra em pormenores, mas revela que «a rede de prostituição infantil é muito complexa» e poderá ter ligações a Pedro Damba, suspeito de tráfico de crianças para o Reino Unido. O indivíduo encontra-se preso na Carregueira, cumprindo uma pena de seis anos e meio de prisão por falsificação de documentos e facilitação de imigração.
As ligações estendem-se também a indivíduos que «estão detidos em Caxias» e incluem a possibilidade de «emissão de bilhetes de identidade» para as crianças que chegam de outros países.
Ao Departamento de Investigação e Acção Penal o grupo já deu os nomes dos envolvidos no caso. O advogado considera «escandaloso» que «nem o ministro dos Negócios Estrangeiros saiba onde está, neste momento, o ex-embaixador Jorge Ritto». Mais: é preciso «investigar tudo e só depois falar em prescrições».
Quanto às acusações de Teresa Costa Macedo, em entrevista ao DN, sobre as suas intenções na divulgação deste caso, Pedro Namora garante: «São já demasiadas as mentiras, declarações contraditórias e mistificações.».
A começar «pelo facto de a ex-governante ter tido obrigatoriamente conhecimento do caso desde Janeiro de 1976, altura em que foi denunciado na Assembleia Constituinte pelo deputado Manuel Ramos».
FOTOGRAFIAS. O advogado explica não saber onde estão as fotografias que revelam o envolvimento de várias figuras públicas em actos de pedofilia com menores da Casa Pia. «Teresa Costa Macedo disse que as tinha num cofre em sua casa, depois referiu que não sabia da chave e mais tarde desmentiu tudo».
O advogado Adelino Granjo, que também faz parte do grupo, garantiu ao DN que os ex-alunos não irão vacilar nas denúncias. Apesar de Durão Barroso ainda não ter respondido ao pedido de audiência, «temos esperança que nos receba».
Nessa altura, «vamos dizer-lhe tudo o que sabemos, porque há pessoas dispostas a denunciar os antigos e os actuais violadores.
Muitos casos ainda não prescreveram. Alguns dos envolvidos, se não forem condenados judicialmente, deverão ser penalizados politicamente».
* Com Cadi Fernandes
«Disparate é livre em democracia»
«Em democracia, até o disparate é livre.» A actual provedora da Casa Pia comenta desta forma as afirmações feitas por Teresa Costa Macedo ao DN, segundo as quais Catalina Pestana teria conhecimento de casos de pedofilia na instituição já na década de 70. De acordo com a entrevista dada ao DN por Teresa Costa Macedo, Catalina Pestava teria, inclusivé, enviado um relatório sobre os alegados abusos sexuais ao provedor da Casa Pia na altura, Peixeiro Simões. A ex-secretária de Estado reafirma a veracidade de todas as suas afirmações ao longo destes meses. Catalina Pestana prefere não falar agora e «trabalhar 14 a 16 horas por dia».
MARIA JOSÉ MARGARIDO *
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