|
07-01-2003
«Bibi não é o único»
C. F.
Foto: DN-Rodrigo Cabrita
Entrevista com Adelino Granja, Advogado e ex-aluno da Casa Pia. Adelino Granja garante que há pessoas dispostas a testemunhar em tribunal contra personalidades envolvidas em actos de pedofilia
- Acredita que, alguma vez, Carlos Silvino será julgado?
- Sim, há vários processos, nomeadamente o do jovem Joel, cujo caso defenderei gratuitamente. Já apresentei a procuração da mãe no DIAP. Pelo menos, Bibi irá a julgamento. Sobre se será condenado ou não é que tenho menos certezas.
- Bibi será o único no banco dos réus?
- Não sei. Há pessoas dispostas a denunciar às autoridades competentes os nomes dos envolvidos nos actos de pedofilia. Os mais antigos e os mais recentes. Prontificam-se a ir a tribunal. A comissão de ex-alunos da Casa Pia, da qual faço parte, também já deu indicaçação dos nomes de alguns funcionários ainda ao serviço da instituição, um dos quais já foi suspenso. Outros ainda lá estão.
- Portanto, mais funcionários abusaram dos alunos...
- Sim, recordo-me do caso antigo de outro funcionário, que nós chamávamos Gaguinhas, por ser gago, que também foi expulso do Colégio de Pina Manique na mesma altura do Bibi, só que, ao contrário deste, nunca mais voltou. Lembro-me que fizemos uma reunião geral de alunos a denunciá-lo, porque ele, como monitor, costumava pernoitar lá e tinha sexo com crianças. Também era ex-aluno, como o Bibi, mas não sei se angariava menores para o exterior.
- Quando iam para as colónias de férias era uma forma de fugir aos abusos, ou não?
- Nem sempre. Nós costumávamos ir de férias para Lagos. Ficávamos naquelas escolas primárias do tempo de Salazar. Como não havia controlo nenhum, alguns dos rapazes passavam a noite fora, garantindo que ficavam na casa de um actor homossexual que tinha casa de férias em Lagos.
- Foi aluno dos colégios Nun'Álvares e Pina Manique. Tinham contactos com jovens de outros colégios?
- Sim, sobretudo nas colónias de férias. Lembro-me particularmente de uma aluna do Colégio de Santa Catarina, a Dália, que conheci numa colónia de férias perto da Praia Grande. Ficávamos na vivenda que um médico cedera à Casa Pia. Era entre Colares e a Praia Grande. Lembro-me dela porque também era muito caladinha, como eu. Naquela altura, comentava-se que teria uma relação com alguém mais velho do colégio, mas nunca lhe cheguei a perguntar nada porque morreu muito nova.
Creio que morreu de leucemia, mas não tenho a certeza. Lembro-me que nos jardins de Belém também havia polícias e militares que tinham relações sexuais com alunos da Casa Pia.
|