14-01-2003

Antigo funcionário obrigou alunos a fazerem desmentidos

Ontem como hoje, foram as denúncias feitas pelas mães de alunos (a mãe de D., em 1989, e a de I., em 2001) que trocaram as voltas ao percurso errático de Bibi. Mas no processo de 1989 nem tudo foi linear e o DN teve acesso a documentos que o confirmam.

A mãe de D., Maria Helena, escreveu, em 1989, uma carta à professora Fátima Gonçalves, do colégio de Pina Manique, denunciando que «há um ano atrás, o D. teve um problema aí com um fulano que é motorista da Casa Pia», «fulano» conhecido pela «alcunha de Bibi».

Foi iniciado um processo disciplinar. Primeiro, D., na altura com 14 anos, que à mãe terá afirmado a sua intenção de não voltar ao colégio por medo do funcionário, disse, a 7/6/89, que Bibi «lhe ofereceu dinheiro», acto que terá repetido várias vezes.

Também adiantou que teria práticas sexuais com outro aluno, S. Este confirmou a 8/6/89, essas práticas, que envolviam masturbação mútua.

A partir daqui, o processo ficou mais complicado. Outro aluno, J., afiançou, a 19/7/89, que as palavras de S. «não são verídicas», invocando para o efeito «mais colegas meus que agora estão de férias». Também aproveitava para elogiar Bibi: «Só se ouve falar bem dele.»

Ainda mais curioso é o posterior testemunho manuscrito de D., a 19/7/89, garantindo que as suas anteriores declarações «não são verídicas, pelo que solicito que sejam retiradas todas e quaisquer acusações ao Bibi».

Só que, a 30/8/89, D. reconheceu que fora obrigado a «desmentir-se». No dia 19 desse mês, Bibi tê-lo-ia chamado e, na presença de outro funcionário, Joaquim Coxinho, «disse para eu escrever», num «papel azul de 25 linhas», o que «eles me iam ditar». O texto «foi alternadamente ditado por um e outro».

Bibi também terá prometido «cinco mil escudos» a outro aluno, J., que escreveu um texto que o funcionário ditara. Testemunhos, que foram dados como pouco credíveis.

Jovem negro foi espancado em 1980

«Casapiano negro chicoteado numa praia do Algarve com a convência do vigilante»: assim titulava o Diário de Lisboa uma notícia publicada a 19 de Agosto de 1980. A denúncia fora feita ao jornal por «Carmo Vicente, primeiro-sargento pára-quedista, poeta». O jovem, espancado na praia da Albandeira, no concelho de Lagoa, era Paulo Gomes e tinha 14 anos. O vigilante, segundo afirmou Vicente, «chamava-se José Pires». Em causa estava um furto numa pequena barraca improvisada na praia, tendo o jovem sido imediatamente apontado com culpado. Este «não tinha furtado nada a ninguém». Pires terá dito que «como coordenador da Casa Pia, podia castigar da maneira que muito bem entendesse as crianças e os rapazes que estavam sob o seu controlo».

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