|
15-01-2003
Ex-alunos da Casa Pia Pedem Homenagem a Mestre Américo
Por RICARDO DIAS FELNER
Audição no Parlamento
Partidos da maioria faltaram à audição pedida pelo Bloco de Esquerda, mas PSD também quer receber comissão de antigos alunos
Os dois antigos alunos da Casa Pia Pedro Namora e Adelino Granja pediram ontem um "agradecimento público do país" ao mestre de relojoaria Américo Henriques, que dizem ter sido a primeira pessoa a denunciar os casos de abuso sexual de crianças na instituição.
Os representantes da associação de ex-casapianos fizeram o apelo durante uma audição, na Assembleia da República, iniciativa do Bloco de Esquerda, na sequência da recusa da comissão parlamentar de direitos liberdades e garantias em ouvi-los.
"Por favor, que haja um acto simbólico de agradecimento ao mestre Américo, que se bateu durante anos para acabar com os abusos. Este homem andou, sozinho, a lutar contra tudo e contra todos.
Não quero indemnizações pelo que sofri. Por mim, ficarei satisfeito no dia em que o país disser: 'Obrigado, mestre Américo'", disse Pedro Namora, dirigindo-se a uma plateia onde só marcaram presença deputados do PS.
O advogado, numa intervenção emocionada, recordou o papel "central" do professor de relojoaria da Casa Pia de Lisboa, referindo-se, nomeadamente, à carta enviada por este à tutela, em Abril de 1980, dando conta das alegadas práticas pedófilas de Carlos Silvino, conhecido pela alcunha de "Bibi" - uma iniciativa que, segundo o depoimento de Adelino Granja, lhe valeria uma sanção disciplinar ordenada pela então secretária de Estado Teresa Costa Macedo, por se considerar ter exorbitado as suas funções.
Os dois ex-casapianos descreveram ainda, com pormenor, a reunião ocorrida depois dessa diligência, entre uma comissão de ex-alunos, o então Presidente da República Ramalho Eanes, o provedor da Casa Pia e Teresa Costa Macedo.
De acordo com Adelino Granja, o encontro foi importante porque, pela primeira vez, alguém [Ramalho Eanes] lhes dava ouvidos e mostrava disponibilidade para agir - atitude que, criticam os ex-alunos, a secretária de Estado com a tutela da instituição nunca demonstrara.
Adelino Granja, presente no encontro, afirma ter colocado na altura, claramente, o problema da "readmissão de um funcionário que violava crianças", facto a que o provedor respondeu com a inexistência de provas e perante o qual Teresa Costa Macedo "nada fez".
Pedro Namora, depois de lamentar o facto de os partidos da maioria, PSD e CDS-PP, terem recusado a sua audição em sede da comissão de direitos, liberdades e garantias, procurou justificar a enorme "injustiça" que esse gesto representou para si e para os colegas que sofreram na pele as "violações" de Bibi.
Com lágrimas nos olhos e a voz embargada, o advogado lembrou os "irmãos" que morreram ou se encontram hoje na prisão, dando o exemplo do colega Carriço, falecido "em condições trágicas, das primeiras pessoas a morrer de sida no país".
Depois da audição, os ex-alunos afirmaram que o PSD e o PCP também mostraram disponibilidade para os receber e adiantaram não terem ainda conhecimento da resposta de Durão Barroso relativamente ao pedido de audiência que lhe endereçaram.
N.W.:- O Cherne está-se cagando para o assunto! Este processo envolve gente graúda e enquanto os nomes não saltarem cá para fora, nunca saberemos realmente a dimensão desta rede de panascas, encobertos pelas ditas entidades oficiais deste País! Vejam o que se está a passar com o embaixador Ritto: plena impunidade para se deslocar para o estrangeiro - dizem que se encontra na Rússia - quando existem provas contra ele como pedófilo. Por acaso pensam que este caso vai ficar resolvido? Depois de a poeira inicial ter assentado, podem crer que é mais um processo a ganhar poeira nas gavetas de um qualquer serviço estatal, se não for mesmo destruído como o foram outros anteriormente. Eu não acredito mais na justiça deste País, nos políticos, nos governos, no sistema.
|
|