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16-01-2003
Advogado de"Bibi" julgado por burla
Dória Vilar é arguido num grande julgamento que decorre em Oliveira do Bairro
João Luís Campos *
As primeiras entrevistas do novo advogado de Carlos Silvino (conhecido por "Bibi") acabaram por denunciá-lo. Afinal, o causídico Manuel Dória Vilar foi acusado da prática de um crime de burla consumada e de dois crimes de recepção no âmbito de um processo de burla que está a ser julgado em Oliveira do Bairro. Vila, onde, ontem logo de manhã, um barbeiro, por exemplo, denunciava a situação.
Afinal, quem presenciou as primeiras sessões daquele julgamento – que, pelo elevado número de arguidos, está a decorrer no salão dos bombeiros municipais – logo se apercebeu que era a mesma pessoa. Ao que o JN apurou, o advogado terá mediado uma cedência de quotas que envolveu outros arguidos nesse processo.
"Não vai afectar em nada a minha defesa de Carlos Silvino", garantiu, ao JN, Dória Vilar, referindo que aquela situação "é do domínio público".
O advogado que aceitou defender o homem que é suspeito de ter cometido diversos crimes de abuso sexual contra crianças da Casa Pia também entende que a situação agora conhecida "não vai originar qualquer tipo de pressões". Embora admita que, na altura, não informou Carlos Silvino dessa situação, por entender que "não seria relevante", garante que o fará muito em breve.
Confrontado com o facto de, em caso de condenação, poder ser impedido de representar "Bibi", Dória Vilar garante ser "inocente", recusando-se, assim, a comentar esse cenário, que poderia obrigar a mais uma mudança de defensor.
Aparentemente, o envolvimento de Dória Vilar resume-se à participação no negócio da venda de quotas de uma das empresas envolvidas no caso.
O julgamento envolve um conjunto de 1600 crimes, desde burla qualificada a falsificação de documentos e associação criminosa, que terão prejudicado 400 empresas portuguesas. Em concreto, os 21 arguidos são acusados de obter, ou tentar obter, mercadoria sem pagar num valor global superior a um milhão de contos (cinco milhões de euros), de 1998 a 2000.
A fraude seria liderada por um industrial das Caldas da Rainha, que, só à sua parte, é acusado de dois crimes de associação criminosa, 770 crimes de falsificação de documentos, 753 crimes na forma tentada de burla qualificada e 98 crimes de burla qualificada.
Parte das mercadorias obtidas ilicitamente em Portugal eram escoadas para a Guiné-Bissau, onde o principal suspeito tinha contactos privilegiados com governantes locais.
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