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17-01-2003
Testemunho de jovem pode levar à detenção de Jorge Ritto
JOÃO PEDRO FONSECA CADI FERNANDES
Foto: Arquivo DN
Leonardo Negrão
O Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) ouviu, na quarta-feira, o relato dos abusos sexuais que um jovem, hoje com 21 anos, terá sofrido por parte de Carlos Silvino da Silva, Bibi, durante o tempo em que foi aluno da Casa Pia (1985-1999).
Relato esse que, atendendo ao facto de os alegados abusos terem sido praticados, nomeadamente, em 1996, não estando, portanto, abrangidos pela figura jurídica da prescrição, poderá conduzir, nos próximos dias, à detenção do diplomata.
E também, de outras pessoas. Nem outra coisa poderia acontecer, por via do conteúdo das denúncias, com referências muito concretas a nomes e a locais.
Caso Ritto esteja em Portugal ou em Moscovo, como chegou a ser veiculado, a PJ actuará. Se estiver fora do País, deverá utilizar os mecanismos internacionais previstos para inquirir o embaixador.
O jovem terá sido pela primeira vez violado ao seis anos por Bibi, quando este se deslocava a um lar da Casa Pia e o transportava, juntamente com outros colegas, a colónias de férias em Colares, Areia Branca, Armação de Pêra.
O primeiro abuso terá acontecido em Julho de 1987. Bibi tê-lo-á apalpado, fechado numa casa de banho, penetrado o ânus do menor, masturbando-se em seguida.
Ameaçou-o de morte se o denunciasse. Terá abusado dele até 1996. Também o levava a casas de pessoas ricas, com grandes casarões, algumas falando línguas estrangeiras. Essas vivendas localizar-se-ão em Cascais e no Estoril. O jovem terá ido a quatro delas, que, alegadamente, já indicou às autoridades.
Para uma dessas casas, a de Ritto, em Cascais, que recorda como um senhor de óculos, terá sido levado por Bibi, numa carrinha branca, em 1996, acompanhado de outros dois jovens alunos. Depois dos abusos sexuais, os homens presentes levavam-nos de volta aos colégios.
O jovem terá denunciado, ainda, um cozinheiro da Casa Pia: este, juntamente com Bibi, tê-lo-á, em 1988, uma única vez, obrigado a masturbá-lo no colégio que frequentava. Bibi foi mais cruel: penetrou-o e masturbou-se. Outro funcionário da Casa Pia também o violou a partir dos oito anos.
A prática era sempre a mesma: penetração, seguida de masturbação, eventualmente para que não houvesse indícios de esperma, que permitiriam denunciar os algozes do rapaz.
Outro violador terá sido um médico do «Posto 28», na avenida Afonso III, em Lisboa, que, por várias vezes, quando o menor se deslocava ao seu consultório com dores nos ossos ou nos ouvidos, o obrigava, curiosamente, a despir as calças mexendo-lhe nos órgãos sexuais.
O jovem ter-se-á queixado destas práticas ao educador que tinha na altura. Em Dezembro de 1999, terá sido expulso do colégio por um educador e uma educadora do colégio, que não se inquietaram com o seu destino, ficando cerca de um mês a viver ao deus-dará. Agora, clama por justiça.
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