20-01-2003

Pedofilia na Casa Pia

ANA NUNES *

Foto: Arquivo DN
Leonardo Negrão
Considerada até há pouco tempo como um tabu, a pedofilia tornou-se, desde há umas semanas, num dos assuntos mais falados em todo o País, apesar de se tratar de um assunto deveras delicado.

Portugal inteiro teve conhecimento deste tipo de situação numa das instituições mais conhecidas no País, a Casa Pia.

Já na Primavera de 2000 houve conhecimento de violação de menores por parte de um funcionário, na Casa Pia de Évora e também por colegas mais velhos das vítimas, que eram incentivados (pelo funcionário) a praticar este crime que, além de horrendo, é, também, nojento.

Há pouco mais de um ano o alegado funcionário foi expulso da Casa Pia de Évora, mas por algum motivo oculto, este trabalha agora no Centro Regional de Segurança Social da mesma localidade.

Na Casa Pia de Lisboa passava-se igualmente uma situação semelhante, dado que um dos funcionários da casa (de total confiança, dizia o ex-embaixador Jorge Ritto, imaginemos porquê!) violava rapazes, cujo silêncio foi guardado durante duas décadas.

Este mesmo funcionário, Carlos Silvino, mais conhecido por Bibi não só violava e abusava sexualmente das crianças, mas também «vendia» os rapazes por algum tempo a personalidades, algumas não só bem conhecidas, mas também importantes na sociedade.

Desde 1975 que Bibi era um motivo de desconfiança por parte dos colegas que, por várias vezes, o tentaram levar para fora daquela instituição. Por razões ainda desconhecidas, volta a ser readmitido, repetindo os actos de que agora é acusado.

Novamente por razões desconhecidas, o mandado de captura emitido pelo Ministério Público a 7 de Novembro, demora 19 dias entre o Departamento de Investigação e Acção Penal e a PJ. De facto, o mandado somente é cumprido pelos agentes no dia 24, depois de o escândalo ser transmitido intensamente a todo o País, através da comunicação social. Porquê, pergunto eu, a justiça é tão lenta em Portugal?!

A meu ver, e de acordo com as notícias amplamente divulgadas, Carlos Silvino não deveria ser o único arguido deste caso, pois outras personagens, entre as quais Jorge Ritto, deveriam ser severamente castigadas. A PJ - por razões - desconhecidas, também está demasiadamente ligada (ou talvez nem tanto como deveria) a este assunto!

Na minha opinião tudo isto foi bastante ligeiro, apesar de tudo, pois casos como estes continuam a acontecer, apesar de não serem do conhecimento público.

Pessoas bem conhecidas na sociedade nunca serão punidas por este tipo de actos ou outros semelhantes, pois, infelizmente, a «corrupção», qualquer que ela seja, no nosso país, é muito utilizada por pessoas com mais posses, ou apenas por serem conhecidas ou importantes.

É triste ver porque é que isto acontece, é triste porque «grandes» pessoas continuam a usar e a abusar das mais «pequenas» e quando a «bomba explode» só os primeiros se escapam e quem sofre são os segundos.

É triste ver a influência do dinheiro nas pessoas, que vão destruindo a sociedade tornando-a podre pouco a pouco, submetendo e transformando os inocentes e os menos poderosos em pessoas piores.

* Ana Cristina de Almeida Nunes é aluna da Escola Secundária Nuno Álvares (Castelo Braco) e teve a colaboração da professora Maria Celina G. Caldeira Martins