27-01-2003

"Vai haver acusações no processo Casa Pia"

Souto Moura, em entrevista à Rádio Renascensa, garantiu que as investigações à rede de pedofilia são uma prioridade da Procuradoria

Tânia Laranjo

Souto Moura, procurador-geral da República, garantiu, ontem, em entrevista à Rádio Renascença, que haverá acusados nas investigações à rede de pedofilia na Casa Pia. "Não andamos à cata de nomes sonantes. Mas é provável que haja acusações.

É fácil de prever,dado o rumo das investigações", afirmou o magistrado, acrescentando que todos os envolvidos serão submetidos aos mesmos princípios. "Se houver personalidades envolvidas vão ter o mesmo tratamento que as outras. Não haverá privilégios".

"Comunicação Social não pode andar a fazer investigações paralelas"

No entanto, na opinião de Souto Moura, a excessiva exposição pública do caso acarreta muitos riscos. "A Comunicação Social teve um papel muito importante na denúncia do caso.

Confesso que, até há cerca de um mês, nunca tinha ouvido falar de histórias na CasaPia. Mas, a determinado momento, essa mesma Comunicação Social pode ser acusada de branquear determinadas situações.

Falo apenas de um ou dois casos, mas se continuarem a fazer investigações paralelas podem contribuir para o branqueamento da pedofilia em Portugal", afirmou o procurador-geral, explicando que alguns trabalhos jornalísticos poderão ser depois utilizados pelos advogados. "Uma das estratégias da defesa passa pela descridibilização da testemunha. É preciso protegermo-nos disso".

Souto Moura reafirmou, ainda, o empenhamento das autoridades no cabal esclarecimento do caso. "O que foi feito foi com o apoio muito claro do Governo e da PJ, que nunca regateou meios.

Foi criada uma equipa de magistrados para tratar deste caso. Duas dessas magistradas, que já trabalhavam essa área no DIAP, estão a a tempo inteiro. Vamos ver o que isto vai dar".

Menores ouvidos

A Polícia Judiciária (PJ) e o Ministério Público continuam a ouvir crianças da Casa Pia de Lisboa, que eventualmente estão ou estiveram envolvidas na rede de pedofilia.

Nas últimas semanas, foram ouvidos mais de 20 menores, tendo alguns deles denunciado outros funcionários da instituição.

Reunir indícios

Esta semana, a PJ prosseguirá os interrogatórios, ainda com crianças, admitindo depois começar a ouvir eventuais suspeitos. "Era importante reunirmos provas.

Os depoimentos das crianças podem não ser, por si só, suficiente. É fundamental termos uma série de indícios que, depois, nos permitam actuar", adiantou, ao JN, uma fonte da Directoria de Lisboa da PJ.

No entanto, o processo será autónomo ao que corre contra o funcionário Carlos Silvino, conhecido por "Bibi", e que determinou a sua prisão preventiva na cadeia de Gomes Freire.

Os autos, que se mantém no Departamento de Investigação e Acção Penal do Ministério Público, dizem apenas respeito às denúncias de abuso contra dois menores, podendo ser deduzida acusação nos próximos meses.

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