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01-02-2003 - 00:00
PROÍBIDAS IMAGENS DAS CRIANÇAS
A provedora da Casa Pia de Lisboa, Catalina Pestana, proibiu todas as filmagens, fotografias ou entrevistas com as crianças da instituição e até reproduções de arquivo.
Tiago Sousa Dias
Catalina Pestana quer proteger a privacidade dos alunos
Num comunicado, enviado ontem para a comunicação social, a provedora afirma que não autoriza a "gravação, difusão, reprodução, intercepção, registo, captação e divulgação de conversas, entrevistas ou declarações, fotografias, filmes ou imagens (focadas ou desfocadas)" dos alunos da Casa Pia.
Esta medida afecta não só jornalistas mas também todas as pessoas que queiram aproximar-se das crianças com esses fins. Na mesma nota, também enviada para o Departamento de Investigação e Acção Penal da Polícia Judiciária, Catalina Pestana refere ainda que não autoriza "a utilização de conversas ou palavras, filmagens, fotografias ou outras reproduções de som ou imagem, qualquer que seja a data em que foram realizadas", dos alunos que tem à sua guarda.
Fonte da instituição adiantou à Lusa que o objectivo é preservar as crianças.
A verdade é que ultimamente os alunos da Casa Pia têm sido muito solicitados na sequência dos alegados casos de pedofilia divulgados em Novembro do ano passado.
A mesma fonte garantiu que há muitos casos de pessoas a tentar fazer entrevistas às crianças, muitas vezes fazendo-se passar por familiares ou jornalistas.
"As crianças ficam perturbadas", revelou, justificando que a nota da provedora se refere apenas aos actuais alunos e deve manter-se até que toda a situação se clarifique.
Contactado o Sindicato de Jornalistas, o presidente Alfredo Maia disse não ter nada a acrescentar a este comunicado: “Trata-se de uma medida legal, pois a provedora tem a tutela destas crianças e como tal está a exercer a sua protecção.
O CM contactou vários órgãos de comunicação social e jornalistas, mas ninguém comentou. Um repórter, que pediu anonimato, disse: “Como jornalista, preferia ter total liberdade, mas como cidadão acho a medida oportuna e importante para manter o bom nome da instituição”.
Em Novembro de 2002, os casos de abusos sexuais de crianças na Casa Pia foram divulgados pela comunicação social e desde aí foi detido um funcionário e afastado o antigo provedor. Catalina Pestana ainda esta semana disse na Assembleia da República que o caso não está solucionado.
A medida da provedora “não deve afectar o trabalho jornalístico”, disse um advogado. E adiantou: “neste caso, não se trata de segredo de Justiça mas sim garantir a privacidade das crianças que estão sob a tutela da instituição”.
Isabel Faria
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