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02-02-2003
Testemunhos de vítimas comprometem Carlos Cruz
Foto: DN
Ana, nome fictício, voltou a recordar agora o pesadelo de que foi vítima, enquanto menor, na casa do embaixador Jorge Ritto no início dos anos 80.
Depois de ter partido para França, onde teve três filhos, regressou a Portugal recentemente e prestou depoimento às autoridades judiciais, evocando explicitamente o nome de Carlos Cruz, suspeito de abuso sexual de menores e tráfico de crianças.
Assim se indicia que o apresentador de televisão terá alegadamente tido essas práticas ao longo de vários anos, começando, ao que tudo indica, na casa de Ritto em Cascais e ultimamente noutra em Elvas, propriedade do advogado Hugo Marçal.
Há, aliás, depoimentos escritos no Ministério Público (DIAP) confirmando isso e dando conta de episódios recentes, logo, não abrangidos pela prescrição.
Carlos Cruz, a despeito de ter negado o seu envolvimento nestas práticas, procurou informar-se sobre as suspeitas de que era objecto, tendo-se encontrado com o procurador-geral da República e, ao que disseram ao DN, com um dos advogados que tem dado a cara na denúncia do escândalo de pedofilia na instituição.
O DN está a tentar contactar José Pedro Namora e Adelino Granja, dois antigos alunos da Casa Pia, mas desde há uma semana que tal se tem revelado infrutífero, havendo indicações de que um deles terá saído do País. Recorde-se que foi Namora quem, contactado por «Bibi», lhe indicou o nome do primeiro dos quatro advogados que já teve: Edviges Ribeiro, com quem partilhava escritório.
Agora, sabe-se também que Hugo Marçal, o anterior causídico do funcionário da Casa Pia acusado de abuso sexual de menores, conhecia Carlos Cruz e o médico João Ferreira Dinis, disponibilizando uma segunda casa que tem em Elvas para actos de pedofilia.
A Marçal, suspeito de lenocínio, foi imposto termo de residência fixa e o pagamento de uma caução de dez mil euros, encontrando-se Carlos Cruz e Dinis detidos preventivamente no estabelecimento prisional no interior da PJ por suspeitas de abuso e tráfico de menores.
Ao que o DN apurou, Carlos Cruz, que tem desde há alguns anos uma residência de férias em Cabo Verde, terá alegadamente «limpo» as suas contas bancárias, preparando-se para deixar o País.
Jovens ex-alunos da Casa Pia implicam abertamente estes três homens, além de outros ainda não interceptados pela PJ, na prática muito recente de abusos sexuais, o que pressupõe a iminência de novas detenções. Entre elas poderão estar personalidades ligadas ao futebol, à política e à actividade clínica.
Curiosamente, registaram-se, nos últimos dias, diversas transferências de detidos na Polícia Judiciária para outros estabelecimentos prisionais.
Também há testemunhos que implicam directamente o diplomata Jorge Marques Leitão Ritto, de 66 anos, que continuará, ao que o DN apurou, em Moscovo, cidade onde Portugal está representado pelo embaixador Nunes Barata, de quem será amigo.
«Bibi» está em prisão preventiva desde o dia 25 de Novembro de 2002, estando para breve o término dos três meses definidos por lei. O Ministério Público poderá pedir a renovação daquela que é a mais gravosa medida de coação.
O DN tentou contactar o actual advogado de «Bibi», mas Manuel Dória Vilar recusou-se a prestar quaisquer declarações.
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