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04-02-2003
PJ tem provas documentais
A Polícia Judiciária (PJ) tem na sua posse provas documentais, nomeadamente vídeos e fotografias, que envolvem Carlos Cruz em abusos sexuais de menores, soube o DN.
Foram essas mesmas provas, antigas e recentes, confirmando assim uma alegada prática continuada ao longo dos anos, que motivaram a sua detenção pela PJ na sexta-feira à noite no Algarve e a aplicação da prisão preventiva, no sábado de manhã, pelo juiz Rui Texeira, em Lisboa. Para além disso, há vários testemunhos concordantes sobre aquela alegada prática continuada de actos de pedofilia.
Dois desses testemunhos, referentes a situações que ainda não prescreveram, foram considerados particularmente credíveis pelo Ministério Público, que avocou este processo e dirige em efectividade o comando das operações.
Carlos Cruz é suspeito, nomeadamente, de abuso sexual simples e abuso sexual agravado de menores, para além de tráfico de crianças.
Poderá ainda estar envolvido na lista dos cerca de 200 cidadãos portugueses, alegadamente já na posse da PJ, que terão sido subscritores de um portal norte-americano de pornografia infantil.
A «Operação Enfant», da PJ, foi iniciada depois da «Operação Avalanche» (EUA), «Operação Ore» (Reino Unido) e «Operação Snowball» (Canadá), na medida em que aquele portal terá tido como subscritores 250 mil pessoas em todo o mundo, nomeadamente o guitarrista britânico Pete Townshend.
O FBI já terá feito chegar à sua congénere portuguesa a lista nacional, de que farão também parte políticos, empresários e desportistas.
VIGILÂNCIA. O DN sabe que dezenas de pessoas estão a ser investigadas desde há algum tempo pela Polícia Judiciária, depois de, alegadamente, o funcionário da Casa Pia de Lisboa Carlos Silvino da Silva, «Bibi», ter começado a cooperar com as autoridades na identificação dos indivíduos para quem terá angariado crianças da instituição para práticas de abuso sexual.
As pessoas em questão terão estado envolvidas em actos de pedofilia há mais tempo, nomeadamente nos anos 80, quando foram descobertos menores da Casa Pia na residência de Cascais do diplomata Jorge Ritto, e também em práticas mais recentes, podendo, nalguns casos, ser referenciados por ambas as situações, confirmando-se, assim, uma prática continuada deste tipo de abuso.
Isto na perspectiva de que, como nos disseram, «um pedófilo é sempre um pedófilo, em regra geral reincide». Perante todas as provas que a PJ terá na sua posse, poderão estar iminentes novas detenções, nomeadamente de pessoas ligadas ao futebol e à diplomacia.
PERSEGUIÇÃO. A Brigada de Trânsito (BT) da GNR deixou Carlos Cruz levar a mulher e a filha a casa dos sogros em Quarteira, no Algarve, e só depois é que o conduziu a Lisboa, ao Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa.
O apresentador de televisão estava a ser seguido desde manhã pela PJ e quando se terá apercebido disso, já na auto-estrada para o Algarve, acelerou, chegando a sua viatura a atingir os 200 quilómetros por hora.
Nessa altura, os agentes da PJ pediram ajuda à BT para se interceptar o veículo à saída daquela via rápida, o que aconteceu. Carlos Cruz pediu então para primeiro levar a mulher e a filha a casa dos sogros.
RECURSOS. Os advogados de Carlos Cruz e do médico João Ferreira Diniz, também detido por alegado abuso sexual de menores, vão apresentar ainda esta semana recurso da decisão do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa.
Cruz e Diniz encontram-se em prisão preventiva desde sábado e é essa medida de coacção que os causídicos António Serra Lopes e João Nabais querem ver alterada.
Ao terceiro elemento detido pela PJ, o advogado Hugo Marçal, de Elvas, que chegou a ter o patrocínio jurídico de «Bibi», foi aplicada como medida de coacção o pagamento de uma caução de dez mil euros e o termo de residência fixa.
Entretanto, o presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público repudiou, ontem, a utilização da expressão «cabala» para classificar a detenção de Carlos Cruz.
«Não passam de ditos de amigos e familiares» que «não têm qualquer base sólida», declarou Felgueiras, adiantando que as decisões tomadas pela PJ, Ministério Público e TIC «foram seguramente fundamentadas».
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