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04-02-2003
Jorge Ritto queixou-se a Jaime Gama sobre pressões
O diplomata Jorge Ritto não hesitou em escrever ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Jaime Gama, quando se viu confrontado com a descoberta de menores da Casa Pia de Lisboa na sua residência de Cascais.
Na carta, o socialista Jorge Ritto dava conta de alegadas «perseguições políticas» por parte da antiga secretária de Estado da Família, Teresa Costa Macedo. Gama assumira funções a 9 de Junho de 1983.
O processo judicial decorrente da descoberta dos menores, em Março de 1982, na sua casa seria remetido para o Tribunal de Cascais a 26 de Julho de 1983.
A diligência de Ritto terá sido seguida por outros diplomatas, mas Teresa Costa Macedo garante que Jaime Gama lhe telefonou para casa referindo-lhe especificamente o nome de Ritto.
A antiga governante explicou-lhe que o diplomata tinha um «gravíssimo problema», mas não entrou em detalhes, nunca tendo sido feita referência directa à Casa Pia.
Depois de Costa Macedo ter feito esta revelação ao DN, Gama disse nunca ter falado com ela ao telefone sobre a situação de Ritto.
A actual presidente da Confederação Nacional das Associações de Família reitera o que disse, afiançando ter testemunhas do telefonema. Mais: adianta que um mês depois desse primeiro contacto, Gama lhe telefonou outra vez «dando-me razão».
A verdade é que a polémica estalara um ano antes quando era ministro dos Negócios Estrangeiros André Gonçalves Pereira.
Este assumira funções em 1981 e saíra do Governo em Junho de 1982. Conhecido bon vivant, nomeadamente pelas festas que dava na sua casa da Quinta do Lago, no Algarve, Gonçalves Pereira decidira, pouco antes do seu afastamento, expulsar vários diplomatas estrangeiros, argumentando, na altura, que o fizera de acordo com legítimos poderes do Governo.
RELATÓRIO. O ofício sobre as alegadas práticas pedófilas de Ritto deu entrada na Polícia Judiciária a 30 de Julho de 1982, depois de os menores terem sido localizados em Cascais a 2 de Março do mesmo ano.
No relatório que os educadores elaboraram, afirma-se: «Chegados à dita casa, tocámos várias campainhas em virtude de o porteiro não atender.
Contactámos assim com os vizinhos do doutor Jorge, pelos quais soubemos que o dito senhor pertencia ao Corpo Diplomático.»
Mais se adianta: «Quando os educadores lá estiveram na noite de 8 de Março foi-lhes dito que o locutor Carlos Cruz frequentava a casa.»
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